O que você tem feito? O que você está sentindo? Essas duas perguntas podem ser fundamentais para alguém que esteja em um quadro depressivo e precisando de ajuda. Neste Setembro Amarelo, a prática da escuta ativa pode salvar e ajudar na promoção da vida. A Campanha Mundial, que existe desde 2015, foi criada para conscientizar, prevenir e reforçar a divulgação de informações sobre o assunto, principalmente para alertar a respeito da realidade.
De acordo com Antonio Cassio Vaz, Vigário da Paróquia São Francisco de Paula e psicólogo, ouvir é o caminho. “É importante praticar a escuta ativa, evitando julgamentos e perguntas como ‘não acredito que pensou nisso’, ‘tem gente em situação pior’, ‘Não chore por isso, você tem tudo de bom’. Troque essas frases por ‘o que tem feito?’ e ‘o que está sentindo’, deixe a pessoa falar com você e realmente escute, repetindo o que a pessoa falou para que ela perceba que você está realmente ouvindo o que está sendo dito. Retome algum ponto que não tenha ficado claro e escute sem menosprezar”, explicou.
O padre e psicólogo ainda reforça que o ideal é tentar não resolver as situações para a pessoa, mas ajudá-la a compreender o que está falando, ficando mais claro para ela. “Não há dados precisos, porém uma pesquisa recente feita pela Associação Brasileira de Psicologia mostrou que 89% dos quadros psiquiátricos tiveram agravamento por conta da pandemia”, informou.
O medo da doença, as incertezas e falta de perspectiva, assim como o isolamento social, questões familiares e a redução dos momentos de lazer estão entre os fatores que colaboram com essa piora nos quadros e mesmo com a pandemia, oferecer essa escuta para as pessoas que estão sofrendo, mesmo que seja por telefone ou internet, já contribui muito. “Os distúrbios mentais têm que ser tratados como doença, porque são doenças, assim como você vai para o hospital quando tem uma fratura e faz o tratamento, por exemplo”, destacou.
Para Marlene Lasmar Ribeiro Vilela, psicóloga do Ambulatório de Saúde Mental da Prefeitura de Ouro Fino, quando uma pessoa fala sobre tirar a própria vida, ela está pedindo socorro. “É um grito de dor e de desespero. Por isso, deve ser ouvida e encaminhada para um profissional de saúde, que vai acolhê-la, orientar e, se precisar, direcionar a um tratamento”.
Ela ainda indicou que 90% dos casos são decorrentes de transtornos mentais ou de abuso de substâncias, como depressão, bipolaridade ou álcool e outras drogas. “Outras 6 pessoas são impactadas quando perdem um familiar. Salvando essa vida, promovemos a saúde mental também dessas pessoas”, analisou.
Outro ponto de vista, que fala da importância de avaliar, também, o adoecimento da sociedade pensando no atual estilo de vida, foi reforçado no artigo escrito por Juan Gérvas para a Acta Sanitária – https://www.actasanitaria.com/suicidio-falta-vision-civil/. Nele, o escritor destaca um outro aspecto do problema, relacionado ao sofrimento social em razão da subversão de valores fundamentais, como os de igualdade, equidade e dignidade humana, gerando exclusão, dores e falta de perspectivas de vida feliz. A soluções, em muitos casos, não estão apenas nas ações médicas, é preciso que a sociedade abra os olhos para a relevância desse assunto.
Sinais de alerta
Mesmo com o distanciamento social é possível perceber as mudanças no comportamento dos entes queridos, principalmente em casos depressivos. Por isso é importante a escuta ativa e praticar a conversar de forma aberta, respeitosa e empática. “A vida é uma dádiva de Deus que precisa ser preservada, ser cuidada. E Deus colocou os profissionais da saúde para nos orientar”, lembrou.
Entre os principais sinais de alerta, ainda de acordo com o padre Toninho, estão a vontade de desistir de tudo, ausência da vontade e razão de viver, desvalorização de um projeto futuro, material escrito, desenho ou expressão de um pensamento negativo, mensagens pessimistas nas redes sociais, mudança súbita de humor, sentimento de desesperança, depressão, ansiedade, desinteresse pela vida e pessoas, instabilidade e agressividade com aquilo que era comum, agitação, mudanças de comportamento e de hábitos alimentares, como insônia e falta de apetite, diminuição do rendimento escolar e desfazer-se de objetos de valor sentimental.
Campanha em Ouro Fino
Em Ouro Fino, por conta da pandemia, as ações do Setembro Amarelo aconteceram por meio dos meios de comunicação e mídias sociais. Foi realizada, também, uma chamada sobre o assunto na rádio local, afixados cartazes de conscientização nas unidades de saúde, assim como a iluminação com a cor amarela em monumentos públicos para chamar atenção da população sobre o tema.
Ainda de acordo com o Departamento Municipal de Saúde, falar é a melhor solução, por isso, as pessoas podem buscar ajuda dos profissionais de Saúde na Rede Pública, onde serão acolhidos e acompanhados devidamente. Há ainda, o telefone do Centro de Valorização da Vida que pode ser acionado pelo número 141 e é gratuito.
***Artigo completo de Juan Gérvas, em 5 de fevereiro de 2017, para a Acta Sanitária – https://www.actasanitaria.com/suicidio-falta-vision-civil/