A Santa Casa Ouro Fino sempre se esforçou para superar suas limitações e oferecer atendimento digno e de excelência para a população. Desde o ano passado, com a pandemia, as exigências têm sido cada vez maiores, principalmente em 2021, com o aumento exponencial das internações e do preço dos insumos, como medicamentos. Hoje, sem recursos, o hospital será obrigado a fechar o setor COVID.
Para se ter ideia, neste primeiro semestre, de janeiro a maio, a taxa de ocupação do isolamento foi de 120%, com um tempo médio de permanência de quase 9 dias, com pacientes críticos, exigindo a adoção de processos custosos como a intubação até a transferência para a UTI, num tempo médio de espera de quase 3 dias.
Quase 94% das internações foram realizadas pelo SUS. As saídas hospitalares demonstram que 65% dos pacientes tiveram alta, 20% foram transferidos para UTI e que a taxa de mortalidade institucional foi de 14%. Dos pacientes que faleceram, 60% já chegaram ao hospital em estado grave e os outros, com exceção de 2, pertenciam a grupos de riscos com comorbidades e idades avançadas.
No dia 22 de junho, aconteceu uma última reunião da Direção da Santa Casa Ouro Fino com os secretários de Saúde de Ouro Fino, Monte Sião, Bueno Brandão e Inconfidentes. Como alternativa, foram feitas duas sugestões principais: as prefeituras cofinanciarem o pagamento das contas do setor COVID ou as prefeituras assumirem a administração desse setor, com a Santa Casa emprestando o espaço e toda a sua infraestrutura para isso.
Conforme registrado em ata, foi pedido uma posição das prefeituras até o dia 25 do mês de junho. No dia 08 de julho, como nenhuma resposta foi dada, a Direção da Santa Casa se reuniu com a Superintendência Regional de Saúde, da SES/MG, e comunicou a necessidade de encerramento das internações COVID. Hoje, terça-feira (13/07), será apresentado um plano de desmobilização.
Ontem, a decisão de fechamento foi confirmada pelo Conselho de Administração, que se reuniu de manhã e à noite para discutir o assunto, e comunicada para a Secretária de Saúde de Ouro Fino, Dra. Sheilla Faria. Em nota, lamentaram a situação: “Esse é um dia muito triste para nós, do Conselho, que não temos medido esforços para fazer o melhor possível. Mas, infelizmente, sem alternativas, a solução que sobrou foi fechar o isolamento COVID. Ou a gente faz isso ou quebra o hospital. Agora, a estratégia da Santa Casa Ouro Fino será focar no atendimento de outras necessidades, como as urgências e emergências SAMU, as cirurgias eletivas essenciais e ambulatoriais e a Maternidade. Com isso, toda a demanda COVID que vinha para Ouro Fino será direcionada para outros hospitais da região.”
Prestação de Contas do Setor COVID
No primeiro semestre, a Santa Casa recebeu R$30mil da Prefeitura de Inconfidentes, R$139.980,00 da Prefeitura de Ouro Fino e R$639.942,42 do Governo do Estado. As prefeituras de outras cidades, embora tenham assumido o compromisso de participar do cofinanciamento desse serviço, não fizeram isso. No total, a Santa Casa arrecadou a quantia de R$809.922,42.
Contudo, as despesas foram bem maiores do que o valor arrecadado! O custo com a equipe médica foi de R$540mil. Os salários da enfermagem e da equipe de apoio ficaram em R$516.966,67. Além desses valores, foram gastos R$133.596,63 com oxigênio medicinal e R$423.709,62 em materiais e medicações. Outras despesas, como manutenção de equipamentos, alimentação e descartáveis somaram R$61.464,00. No total, a Santa Casa gastou a quantia de R$1.675.736,92.
Diante desse cenário, o hospital assumiu, sozinho, um prejuízo de R$865.814,50. De janeiro a junho, foram 325 internações ao custo de R$5.156,11, cada uma. O valor recebido por paciente, entretanto, foi de R$2.492,06. Ou seja, a Santa Casa bancou 51,67% de cada internação.
Para pagar essa conta, a Santa Casa Ouro Fino gastou todo o lucro do ano passado, no valor de R$640mil, e fez um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal para obter capital de giro no valor de R$395mil. Até o final do mês de julho, as contas a pagar somam R$900mil e os recursos disponíveis apenas R$575mil, ou seja, faltarão R$325mil.
Como é possível ver pelos dados acima, a conta não fecha. Desde o início do ano, foram feitas várias tentativas de sensibilizar os prefeitos da região sobre a importância do setor COVID do hospital. Mas, como já foi escrito, só Ouro Fino (R$139.980,00) e Inconfidentes (R$30.000,00) ajudaram e por apenas 3 meses. Agora, sem crédito e sem fontes próprias de recursos, o dinheiro acabou.